Digital em pauta: nova identidade visual do CCAS
novembro 6, 2024Este artigo foi escrito tendo a trilha sonora do Oasis. Mas, calma, qual é a relação da banda dos irmãos Gallagher com a comunicação? Muito mais do que possa imaginar.
O anúncio do retorno de Liam e Noel Gallagher em uma turnê especial após 15 anos de separação vem movimentando os fãs, a imprensa e o show business. Parecia improvável uma reaproximação de ambos quando presenciamos o volume de acusações, desentendimentos e ofensas públicas no período de separação e, consequentemente, o fim da banda.
Entre ingressos, patrocínio e produtos licenciados, o jornal britânico The Sun calcula que a turnê deve faturar 400 milhões de libras – ou seja, R$ 2,9 bilhões na cotação de hoje. Não é à toa que o entusiasmo pela volta dos irmãos causou tanto alvoroço.
Quando olhamos a magnitude dos shows, a expectativa que está sendo alimentada e o perfil dos fronts da banda, a comunicação não tem espaço para falhar. Um deslize, fatalmente colocará cifras e sonhos de fãs em uma enorme frustração. Uma das alternativas mais recentes para reduzir a chance de qualquer gestão de crise de imagem, foi a decisão de que não haverá entrevistas coletivas. Não aconteceu no anúncio da turnê no final de agosto, nem nas divulgações das datas, cuja estratégia está focada apenas nas redes sociais, e muito menos haverá antecedendo as apresentações. O motivo… Bem, o motivo: evitar que os repórteres perguntem sobre a relação dos irmãos, reacender algum atrito e colocar o evento em cheque, causando perdas para investidores e cancelamento de shows. Afinal, quando o horizonte aponta para uma dimensão de faturamento bilionário, qualquer palavra interpretada equivocadamente é sinônimo de temperatura elevada para riscos.
Por isso, a comunicação low profile, ou seja, mais discreta e usando apenas as redes sociais e comunicados oficiais para ter um um controle maior da informação será a estratégia que continuaremos vendo. E não há nenhum problema em traçar este caminho. No entanto, este mesmo caminho pode ser uma armadilha, como já ocorreu. Na mesma semana em que foi confirmado que não há planos para entrevistas durante as turnês, o Saturday Night Live fez uma sátira dos irmãos em que no final eles acabam discutindo.
Contraditoriamente, a posição de um dos irmãos foi imediata quando um fã perguntou no X, antigo Twitter, se ele havia visto a piada. “Era para eles serem humoristas?” foi a resposta. Esta reação diz muito sobre as dúvidas que permeiam esta estratégia de comunicação e, se de fato, as arestas deste relacionamento foram consertadas. Quando um porta-voz prefere o silêncio em situações de crise, abre-se a brecha para que o outro construa uma verdade que pode não se aplicar à realidade. É importante entender que conversar com um jornalista é dialogar com seu público-alvo, este, sim, interessado nas respostas. O papel do jornalista em uma entrevista coletiva ou exclusiva é ser o intermediário dos questionamentos que o público levanta em mesas de reunião, em conversas no bar com amigos ou nos corredores do trabalho. Ser o primeiro a construir a narrativa, principalmente em situações de crise, é uma das características de um porta-voz preparado.
O Oasis é a materialização mais recente da expressão “as palavras têm poder”. Isto corrobora como na comunicação uma mensagem inserida em um contexto fora do ambiente adequado pode causar uma séria crise capaz de prejudicar a reputação de uma marca, seja ela em empresa ou pessoa. Treinar, entender onde estão os riscos e a importância de se posicionar usando as ferramentas que estão à disposição ajudam a compreender qual o modelo mais adequado para conversar com seu público de interesse, principalmente para evitar qualquer tipo de especulação com potencial de se transformar em uma crise.